segunda-feira, 21 de julho de 2014
Artigo: Vida curta
(A) Dia desses estava olhando fotos antigas, relembrando momentos em
diversos lugares por onde andei, pessoas diferentes, épocas distintas. A nostalgia, por mais incrível que possa parecer, anda comigo desde a
adolescência. Já nasci com saudade. Muitas vezes digo que se fosse
possível viajar no tempo, não iria ao futuro, mas ao passado. Quando
percebo que algumas destas fotos foram tiradas há vinte anos, me bate
uma tristeza, uma vontade de estar lá e ao mesmo tempo uma sensação
gostosa de saber que aproveitei as oportunidades.
Queria voltar no tempo. Fazer tudo de novo. Os erros e os acertos. Não seria o homem que sou se não tivesse vivido cada detalhe que vivi, se não tivesse conhecido cada pessoa que conheci. Aqui e acolá ouço alguém dizer que sou um cidadão do mundo. Minha mãe diz ter curiosidade em saber como conheço tanta gente ao redor do Brasil e em tantos outros países. E o que seria da vida sem as lembranças? E o que seriam as lembranças se não fossem as pessoas que encontramos? Mesmo tanto tempo depois, ainda sinto um aperto no coração, lembro nomes, datas e lugares ao ver as fotos.
Aos 35 anos creio estar na metade da passagem por esta vida.
Posso viver por mais 35, posso viver bem mais do que outros 35, mas
também posso partir antes. Quem tem a certeza? Friederich Nietszche
escreveu sobre a teoria do eterno retorno, a religião prega a
imortalidade da alma, o espiritismo e outras doutrinas e religiões
defendem sucessivas reencarnações até que atinjamos a perfeição do
espírito. É o que consola. Acreditar que já tive e que terei outras
vidas. Uma vida terrena é muito curta, companheiro. Curtíssima. Às
vezes fico imaginando como deve ter sido intensa a vida de pessoas como
Vinícius de Morais, Ernest Hemingway ou Juscelino Kubitschek. Cheios de
amigos, admiradores, experiências engraçadas, doloridas, extasiantes.
A
impressão que se tem é que a vida de figuras desse gabarito duram ao
menos duzentos anos. Na verdade, não precisa ser cantor, jornalista ou
presidente para se ter uma vida que valha a pena. Se da vida só levamos a
vida que vivemos, cada um a seu modo aproveita a passagem. A alma não
envelhece, mas cresce, evolui. Hoje tenho uma filha com quatro anos.
Idade que tinha nas minhas mais distantes lembranças. Lembro do
aniversário, do palhaço Cocada, do gramado onde depois foi a piscina da
casa, do pé de azeitona roxa, do bolo, de alguns amigos que lá estavam,
do choro para abrir os presentes. Minha Maria lembrará do que acontece
hoje quando chegar aos 35? Eu, se chegar aos 70, terei ainda tão vivo na
memória todas essas lembranças? O cérebro abrigará memória, lembranças?
Sempre tive tudo que precisei e boa parte do que quis, graças a Deus e ao esforço de meus pais no trabalho e na educação dos filhos. Todos queremos dar aos nossos filhos mais um pouco do que tivemos. Quando criança, aprendemos na escola que o sujeito nasce, cresce, reproduz e morre, mas a vida não é uma regra matemática. Temos muitos “senão” entre o nascimento e a morte. A cada um de nós é dado o direito ao livre-arbítrio. Não há justiça tão correta como a Divina. Tudo tem causa e efeito. Plantamos e colhemos. Culpar os outros ou atribuir ao céu ou inferno por tudo que nos acontece não me parece ser o caminho mais acertado.
Há vários exemplos de pessoas que tiveram todas as
oportunidades para contribuir com a comunidade, fazer o bem, mas nada
fizeram. Por outro lado, também são muitos os exemplos daqueles que
sofreram com toda sorte de problema e limitação, mas nem por isso
deixaram de praticar o bem, de ajudar o próximo. As fotos que tanto
gosto de olhar me dão saudade dos lugares, das pessoas, das
experiências. Servem de alerta para lembrar quão curta é a vida.
O que
cada um de nós fazemos com nossas vidas é de nossa total
responsabilidade. Encontrar culpado pelos problemas não nos ajudará na
superação. Santo Agostinho se perguntava todas as noites se tinha feito
algo de positivo, se poderia fazer algo mais, se havia magoado alguém.
Não há juiz melhor que nossa consciência. A vida é muito curta para se
perder tempo se lamentando. (Artigo do vereador Lairinho Rosado no jornal O Mossoroense de 20 de julho de 2014).
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