terça-feira, 27 de agosto de 2013
Um Governador
Miguel Arraes governador de Pernambuco, Seixas
Dória governador de Sergipe, Mário Lima deputado
federal do PSB e presidente do Sindicato dos Petroleiros da Bahia, e tantos outros, foram deportados
para Fernando de Noronha logo depois do golpe de
1964.
Arraes no palácio em Recife, Seixas no palácio
em Aracaju, Mario Lima no palácio em Salvador, foram intimados a renunciar a seus mandatos sob pena
de serem presos. Não renunciaram. Foram presos.
O governador do território, comandante daBase Militar, era o coronel Costa e Silva, que não era parente
do então ministro do Exército. O coronel conversava
muito com Arraes e Seixas Dória. Perguntou-lhes: -
De que é que os senhores sentem mais falta?
Arraes e Mario ficaram calados. Seixas brincou: - De
um chope gelado, coronel.
Arraes
Algum tempo depois, o coronel apareceu à meia-noite no alojamento dos três e convidou-os para um chope no cassino dos oficiais. E explicou: - Chamei-os só
agora, a esta hora da noite, porque chegou hoje de Recife um coronel para fazer uma inspeção, pois um
jornal pernambucano disse ontem que os senhores
não estão presos mas veraneando aqui.
E ficaram bebendo o chope e conversando coisas. De
repente, empurram a porta, entra o coronel inspetor.
Todo mundo em silêncio, ele se dirige ao coronel
Costa e Silva:
- Coronel, estou constatando a veracidade da informação do jornal do Recife de que os governadores
estão aqui veraneando.
O coronel Costa e Silva levantou-se: -Coronel, fico
satisfeito com seu depoimento, porque se amanhã o
senhor for preso, certamente pedirá para vir para Fernando de Noronha, pois sabe que aqui há um comandante que respeita a dignidade humana. Os
coronéis saíram e os três continuaram a tomar o chope.
Eram três homens sem mascara. Como outros pelo
País a fora (eu inclusive), Arraes, Seixas, Mario, preferirem honrar os mandatos que receberam do povo
em vez de negociá-los por uma humilhante liberdade. Os homens públicos se definem assim. Na
hora da decisão, têm que ter a coragem de ficar sem
máscara. Para cobrar dos outros que fiquem também.
* Sebastião Nery para o DCI
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